Mas, na verdade, os dos que eu falo não chegam nem perto de alguma sensibilidade.
Na boca felpas da santidade, nos atos punhaladas da maldade.
Então, seguirei com minha consciência tranquila.
Fé aos que merecem, e desprezo aos que perecem.
Hoje precisei escrever sobre você...
Precisei falar de tudo o que sinto quando te vejo
De todas as sensações que me invadem quando admiro o seu sorriso desajeitado
Hoje precisei escrever da inquietude que me toma quando por um segundo me prendo em seus olhos
Do meu coração que não disfarça as palpitações quando sinto sua respiração na minha
Precisei falar da angústia e a solidão que me povoa quando tu não estás presente
Precisei escrever em letra de forma o seu nome e o meu dentro de um coração
Hoje precisei falar de amor, de flores e de poesias para enfeitar o teu dia cinza
Precisei colorir a sua vida com o batom da minha boca, pintar a confluências de cores que esta em mim.
Hoje precisei dizer que te amo, precisei falar da sua presença mesmo na saudade
Precisei escrever a mais intensa e bela declaração de amor
Mas, como intensificar um sentimento sem proporções e medidas?
Como tornar belo algo tão majestoso por si só?
Precisei te dizer que te quero assim, como um menino despreocupado
Precisei e preciso te mostrar a capacidade de amar que tenho guardada dentro de mim
Hoje precisei te abraçar e te beijar de novo, só mais uma vez, novamente, para sempre enfim.
Os passos eram pequenos, a dor lhe impedia de ir mais rápido. Na decida daquela rua transformou-se na via crúcis da vida de Ana. O caminho até um senhor parado com um Kadet ano 85 foi o seu trajeto, a barriga a sua cruz, e o parto da menina seria o seu calvário. Quase se arrastando com as mãos no ventre, lembrou-se do trajeto seguido por Jesus Cristo carregando a cruz que vai do Pretório até o Calvário. E suplicou:
- Senhor dê-me força para carregar a minha cruz! Deixa-me dar a luz a essa criança! Ajude-me Senhor! Nem que seja este um último pedido.
Coincidência ou não, o senhor do Kadet viu que ela estava em trabalho de parto e ajudou a leva - lá até o carro e depois em direção ao Hospital.
As paredes brancas refletiam como um espelho a luz florescente das lâmpadas daquela sala. Era tudo tão branco, tão claro que ofuscava os olhos de Ana Maria. Homens com roupas brancas, cobertos de compaixão e amor que mais se assemelhavam aos anjos, fizeram por um minuto acreditar que Ana estaria no céu.
- Força! Respira fundo e faz força.
Eram essas palavras que Ana conseguia ouvir ao fundo em sua mente. Ela concentrava-se, porém não conseguia fixar-se nos pedidos dos médicos. Pensou como seria o rostinho da criança que estaria por vir, e fez mais força do que o seu corpo poderia aguentar.
Sentiu-se fraca. O seu corpo estava inerte, usou toda a força que tinha. Sentiu a calmaria lhe invadir. Um choro de bebê, talvez pudesse ser um canto celestial, Ana não conseguia identificar. Olhou para a criança nas mãos do médico, tão pequena e macia, tão linda e delicada, só poderia ser um anjo, anjinho sujo de sangue e placenta. Era uma menina, a mensageira havia chegado ao mundo.
- Que linda! É uma menina. Parabéns mamãe! Qual vai ser o seu nome? – perguntou o médico.
- Ela se chamará Beatriz, aquela que traz muitas alegrias, a mensageira da felicidade.
Ana sentiu a maior de todas as felicidades naquele momento. Foi inundada de um profundo amor, o mais verdadeiro, o mais bonito, o mais puro. Segurou Beatriz em seus braços, beijou a sua testa como sinal de respeito, de amor e benção e depois entregou sua filha à enfermeira.
Batimentos acelerados, o corpo judiado pela fome e pelo trabalho não aguentou o esforço do parto. Ana fechou os olhos de felicidade, pediu para Deus cuidar da sua menina, sua missão estava feita, ela trouxe a mensageira para o mundo. Dormiu profundamente e para sempre sonhará o sonho mais lindo em paz.