sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fruta podre



Não. Não quero e não posso perder a fé nos seres humanos.
Mas, na verdade, os dos que eu falo não chegam nem perto de alguma sensibilidade.
Na boca felpas da santidade, nos atos punhaladas da maldade.
Então, seguirei com minha consciência tranquila.
Fé aos que merecem, e desprezo aos que perecem.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

The greatest


The greatest - Cat Power




Uma vez eu queria ser a melhor
Nenhum vento ou cachoeira poderiam me deter
E depois veio a agitação de uma inundação
Estrelas da noite se tornaram um pó profundo

terça-feira, 11 de maio de 2010

Hoje precisei falar de amor

Hoje precisei escrever sobre você...

Precisei falar de tudo o que sinto quando te vejo

De todas as sensações que me invadem quando admiro o seu sorriso desajeitado

Hoje precisei escrever da inquietude que me toma quando por um segundo me prendo em seus olhos

Do meu coração que não disfarça as palpitações quando sinto sua respiração na minha

Precisei falar da angústia e a solidão que me povoa quando tu não estás presente

Precisei escrever em letra de forma o seu nome e o meu dentro de um coração

Hoje precisei falar de amor, de flores e de poesias para enfeitar o teu dia cinza

Precisei colorir a sua vida com o batom da minha boca, pintar a confluências de cores que esta em mim.

Hoje precisei dizer que te amo, precisei falar da sua presença mesmo na saudade

Precisei escrever a mais intensa e bela declaração de amor

Mas, como intensificar um sentimento sem proporções e medidas?

Como tornar belo algo tão majestoso por si só?

Precisei te dizer que te quero assim, como um menino despreocupado

Precisei e preciso te mostrar a capacidade de amar que tenho guardada dentro de mim

Hoje precisei te abraçar e te beijar de novo, só mais uma vez, novamente, para sempre enfim.

Conto - Parte Final

Sete anos se passaram. Beatriz estava em um orfanato chamado Nosso Lar. Ela não chamava muita atenção, talvez por estar sempre escondida, quieta pelos cantos do orfanato, raramente ouvia sua voz e mais raro ainda era chamada pelas educadoras. Uma criança que passava despercebida em meio de outras centenas que necessitavam de atenção e amor.
Parecida com sua mãe, tinha uma beleza incrível escondida atrás dos cabelos tapando o seu rosto. Cabelos negros e lisos, mal cuidados, porém belos. Compridos até a altura de sua cintura, lisos até a sua metade, depois ondulados até as pontas. Tinha um rosto de formato oval, com bochechas carnudas e sutilmente avermelhadas, que às vezes que raramente sorria, apareciam furinhos de beleza no canto da boca. Sua boca era pequena e carnuda, quando sorria, mostrava um sorriso largo com dentes perfeitos e brancos. Seu nariz era pequeno, combinava perfeitamente em seu rosto. E o que Beatriz tinha de mais belo, eram os olhos. Eram grandes, e ligeiramente puxados nas extremidades, parecidos com os olhos de uma felina. Tinham cores particularmente belas, delineados por um preto bem vivo, sua íris era castanho claro belíssimo com um verde escuro nas proximidades da pupila, que por sua vez era redonda e na maioria das vezes estava sempre dilatada.
Ela não compreendia a incompreensão que sentia dentro de si. E pensava sozinha “Eu deveria estar brincando, como todas as outras crianças. Por que todas essas indagações dentro de mim?” Mas, ela não era uma criança igual às outras, ela foi escolhida para ser a mensageira.
Toda aflição das dúvidas, do abandono, da falta de amor tomou conta de Beatriz. Será que ela era muito pequena para grandes indagações?
Os anos se passaram, e a incompreensão do interior de Beatriz permaneceu. Tentou por quatro vezes desistir de si. Veneno, greve de fome, cortes diversos. Mas, algo necessitava que ela vivesse, e quatro foi o número de tentativas de suicídio e quatro foi o número de fracasso.
Procurou maneiras fáceis de fugir, mas quem disse que é fácil fugir de si. Quinta tentativa: tentou algumas vezes refugiar-se em casa. Mas, até ali os seus fantasmas não a deixavam em paz.
Pensou... E então achou que tivesse tido uma grande ideia. E foi a sexta tentativa: “Vou esconder-me em mim”. A partir daí, começou a isolar-se do mundo, das pessoas e da vida. Passou a usar roupas largas, bermudas, camisetas e bonés. Assim o seu corpo era a casa da sua mente solitária incompreendida.
Mas, ela não entendia. Não conseguiu o objetivo de ser invisível entre os que se diziam “normais”. Cada vez mais ela era notada, e viu que sua ideia não era tão boa assim.
Sétima tentativa: descobriu então um analgésico para o seu cansaço. Encontrou as lágrimas, e achou que era bom. Começou a chorar a cada vez que o vazio a apertava o coração. E não entendia como o vazio e o nada poderia lhe causar tanta dor. E toda a incompreensão da humanidade permanecia ali.
O analgésico, como todos os outros somente funcionava por algumas horas, e depois tudo voltava ainda mais forte. Então ela descobriu que chorar não era uma ideia tão boa assim.
Mais uma vez se cansou. Aborreceu-se com a tristeza excessiva e decidiu procurar outra forma de se curar.
Pensou... E teve aqueles instintos de ter tido a melhor ideia da sua vida.
Então na procura da cura para o grito dissonante da sua alma, ela deu papel e caneta para sua voz.
A mensageira descobriu sua missão. E a voz nas linhas dos inúmeros papéis afastou toda a insanidade que havia dentro dela.

Fim.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conto - "Sete" - Parte3

Os passos eram pequenos, a dor lhe impedia de ir mais rápido. Na decida daquela rua transformou-se na via crúcis da vida de Ana. O caminho até um senhor parado com um Kadet ano 85 foi o seu trajeto, a barriga a sua cruz, e o parto da menina seria o seu calvário. Quase se arrastando com as mãos no ventre, lembrou-se do trajeto seguido por Jesus Cristo carregando a cruz que vai do Pretório até o Calvário. E suplicou:

- Senhor dê-me força para carregar a minha cruz! Deixa-me dar a luz a essa criança! Ajude-me Senhor! Nem que seja este um último pedido.

Coincidência ou não, o senhor do Kadet viu que ela estava em trabalho de parto e ajudou a leva - lá até o carro e depois em direção ao Hospital.

As paredes brancas refletiam como um espelho a luz florescente das lâmpadas daquela sala. Era tudo tão branco, tão claro que ofuscava os olhos de Ana Maria. Homens com roupas brancas, cobertos de compaixão e amor que mais se assemelhavam aos anjos, fizeram por um minuto acreditar que Ana estaria no céu.

- Força! Respira fundo e faz força.

Eram essas palavras que Ana conseguia ouvir ao fundo em sua mente. Ela concentrava-se, porém não conseguia fixar-se nos pedidos dos médicos. Pensou como seria o rostinho da criança que estaria por vir, e fez mais força do que o seu corpo poderia aguentar.

Sentiu-se fraca. O seu corpo estava inerte, usou toda a força que tinha. Sentiu a calmaria lhe invadir. Um choro de bebê, talvez pudesse ser um canto celestial, Ana não conseguia identificar. Olhou para a criança nas mãos do médico, tão pequena e macia, tão linda e delicada, só poderia ser um anjo, anjinho sujo de sangue e placenta. Era uma menina, a mensageira havia chegado ao mundo.

- Que linda! É uma menina. Parabéns mamãe! Qual vai ser o seu nome? – perguntou o médico.

- Ela se chamará Beatriz, aquela que traz muitas alegrias, a mensageira da felicidade.

Ana sentiu a maior de todas as felicidades naquele momento. Foi inundada de um profundo amor, o mais verdadeiro, o mais bonito, o mais puro. Segurou Beatriz em seus braços, beijou a sua testa como sinal de respeito, de amor e benção e depois entregou sua filha à enfermeira.

Batimentos acelerados, o corpo judiado pela fome e pelo trabalho não aguentou o esforço do parto. Ana fechou os olhos de felicidade, pediu para Deus cuidar da sua menina, sua missão estava feita, ela trouxe a mensageira para o mundo. Dormiu profundamente e para sempre sonhará o sonho mais lindo em paz.