quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conto - "Sete" - Parte3

Os passos eram pequenos, a dor lhe impedia de ir mais rápido. Na decida daquela rua transformou-se na via crúcis da vida de Ana. O caminho até um senhor parado com um Kadet ano 85 foi o seu trajeto, a barriga a sua cruz, e o parto da menina seria o seu calvário. Quase se arrastando com as mãos no ventre, lembrou-se do trajeto seguido por Jesus Cristo carregando a cruz que vai do Pretório até o Calvário. E suplicou:

- Senhor dê-me força para carregar a minha cruz! Deixa-me dar a luz a essa criança! Ajude-me Senhor! Nem que seja este um último pedido.

Coincidência ou não, o senhor do Kadet viu que ela estava em trabalho de parto e ajudou a leva - lá até o carro e depois em direção ao Hospital.

As paredes brancas refletiam como um espelho a luz florescente das lâmpadas daquela sala. Era tudo tão branco, tão claro que ofuscava os olhos de Ana Maria. Homens com roupas brancas, cobertos de compaixão e amor que mais se assemelhavam aos anjos, fizeram por um minuto acreditar que Ana estaria no céu.

- Força! Respira fundo e faz força.

Eram essas palavras que Ana conseguia ouvir ao fundo em sua mente. Ela concentrava-se, porém não conseguia fixar-se nos pedidos dos médicos. Pensou como seria o rostinho da criança que estaria por vir, e fez mais força do que o seu corpo poderia aguentar.

Sentiu-se fraca. O seu corpo estava inerte, usou toda a força que tinha. Sentiu a calmaria lhe invadir. Um choro de bebê, talvez pudesse ser um canto celestial, Ana não conseguia identificar. Olhou para a criança nas mãos do médico, tão pequena e macia, tão linda e delicada, só poderia ser um anjo, anjinho sujo de sangue e placenta. Era uma menina, a mensageira havia chegado ao mundo.

- Que linda! É uma menina. Parabéns mamãe! Qual vai ser o seu nome? – perguntou o médico.

- Ela se chamará Beatriz, aquela que traz muitas alegrias, a mensageira da felicidade.

Ana sentiu a maior de todas as felicidades naquele momento. Foi inundada de um profundo amor, o mais verdadeiro, o mais bonito, o mais puro. Segurou Beatriz em seus braços, beijou a sua testa como sinal de respeito, de amor e benção e depois entregou sua filha à enfermeira.

Batimentos acelerados, o corpo judiado pela fome e pelo trabalho não aguentou o esforço do parto. Ana fechou os olhos de felicidade, pediu para Deus cuidar da sua menina, sua missão estava feita, ela trouxe a mensageira para o mundo. Dormiu profundamente e para sempre sonhará o sonho mais lindo em paz.

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