sábado, 9 de outubro de 2010

Conto - A profecia do Sertão (parte 2)



Para a jovem buscadora, aquela terra tinha sido amaldiçoada. E ela junto, no momento em que pisou, pela primeira vez no sertão.

Depois de vagar por muito tempo, cansou-se de carregar a foice, deixando-a no chão. E o vestido preto, agora estava marrom, coberto pela solidão em pó.

Chegou a uma cidade chamada Canudos. Alegrou-se. Havia homens vivos. Compridos, magros, abatidos. Será que enfim a buscadora cumpriria o seu papel?

Ninguém notava a sua presença. Insignificante, ela não aterrorizada aquele povo. Eles já viram bichos, muito mais feios que aquela Diaba.

Ao longe, ela enxergou uma pequena multidão. Conduzindo a romaria, um homem alto, muito magro, com cabelo comprido, vestido com um camisão azul. Destacou-se na imensidão opaca. As misturas de vozes compunham um canto triste e místico. O maestro era Antônio. Antônio Conselheiro.

A Diaba foi coberta pela inveja. Ela desejava ser respeitada igual aquele homem. O tempo passou. Muitas almas ela buscou. A inveja transformou-se em compaixão. Como pode a Morte sentir tão admirável sentimento? Ora, caríssimo leitor, só há um caminho: o sofrimento.

A buscadora viu todo o sofrimento daquele lugar. A fome, a sede, a seca deu a ela o respeito que ela desejava. Tornou-se aquela que levava mais almas. Mas, esse título para a sertanista, já não era tão querido assim.

Pensou em uma forma de ajudar o sertão. Falou com Antônio Conselheiro, o beato que não se sabe se era doido ou santo. Ele proclamava a profecia, que um dia o sertão iria virar mar. A Diaba sorriu, não acreditava que um dilúvio com Noé fosse sair de uma terra que só brota mandacaru.

Todo sofrimento que a buscadora tinha presenciado, não era nada perto do que se aproximava. No mês de março, em 1897, o maior conflito que a caantiga já viu. A guerra de Canudos. Pilhas e pilhas de cadáveres se acumulavam no chão. A Diaba não conseguia levar tanta alma sozinha. E pela primeira vez, o chão rachado estava encharcado, mas era de sangue.

Antônio Conselheiro, lutou até a morte pelo sertão, morreu como um santo. E para o povo sertanejo ele era divino. Um líder, um mito. Profeta de Deus, e amigo da Morte.

A Diaba conseguiu o que queria, quando se formou. Tornou-se a mais conhecida buscadora. Sustentou um título que, agora não queria mais amparar.

Nós braços, ela carregava o herói sertanejo. E sem saber, realizou o prenúncio de Antônio Conselheiro.

Foi preciso o profeta morrer, para sua maior profecia se cumprir. Naquele dia, o sertão virou mar. Um enorme açude de lágrimas brotou aonde o beato morreu. E diz a lenda, que essa foi então a segunda vez, que a excelentíssima Morte, chorou.


FIM

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