sábado, 9 de outubro de 2010

Conto - A profecia do Sertão (parte 1)




Este conto escrevi para a disciplina de port3... é bem diferente de tudo que eu costumava escrever, eu gostei =).

Era um tempo em que a terra era seca, não se sabe se mais, do que os corações dos sertanejos que viviam ali. O ar denso, pesado, quase irrespirável, transformava as coisas mais simples em sacrifícios diários. Não se via cores naquele lugar, além da cor marrom, que tão solitária, não coloria nada.

Dizem por lá, que até a excelentíssima Morte, quando passava pelo sertão, vestia-se marrom em respeito à tamanha dor dos homens da terra. Toda orgulhosa, ela se intitulava sertanista, aquela que é única grande conhecedora do povo sertanejo e seus costumes. Mas, também quem, além dessa Diaba passava por ali?

Ela era quase de casa, não havia um mês sequer, que a sertanista não desse uma passadinha no sertão para trabalhar. Mas, isso não quer dizer que ela era querida. Ao contrário, o sentimento que o povo sertanejo nutria por ela, no máximo podemos chamar de respeito. Às vezes, alguns deles até gemiam o seu nome. Chamavam a Diaba ao encontro deles, desejavam antes a morte, do que o sofrer lentamente.

No início, muitos séculos atrás, a jovem Morte, recém-formada na faculdade da escuridão, carregava com ela toda a arrogância do conhecimento cientifico, pronto e acabado. Presunçosa, achava-se muito esperta, detentora de todo o conhecimento que precisava para ser a melhor buscadora de todos os tempos.

Possuidora de um humor-negro, como ninguém, preparou uma peça para caçoar os infelizes no seu primeiro dia de trabalho. Ela sabia que os homens a imaginava bastante caricata. Então, vestiu-se com um longo vestido preto com capuz, arranjou uma foice, e se foi com um sorriso largo.

Chegando à terra rachada, os seus olhos ofuscaram-se com a claridade. Com tantos anos na sombra, aquele lugar devolveu a ela, novamente, a visão. Reza a lenda que foi aí que a Diaba, pela primeira vez, chorou. Não se sabe se foi pela forte claridade, ou pela dor quando enxergou pela primeira vez, a imagem amarronzada do sertão.

Ainda zonza, esfregou os olhos com as mãos, uma, duas, três vezes. Xingou em pensamento o seu chefe, que não só no nome era “A Besta”. Era ele o responsável pela lotação das buscadoras.

Não acreditava, na imagem que estava diante dos seus olhos. De que utilidade, serviria uma buscadora, em um lugar que não tem vida? Quem ela iria buscar?

Olhou em volta...Terra rachada. Alguns bichos magros. Mandacaru, xiquexique e palmas.

A claridade tornava a visão embaçada. A Diaba apertada os olhos, na tentativa quase inútil de se proteger da luz. O tempo quente, parecia ainda mais escaldante, quando olhava o chão, distorcido com o efeito da miragem.

- Tem sertanejo em pó aqui. Tem sertanejo morto nesse chão! Todo esse pó marrom. Tudo isso é feito dessa gente! disse a Diaba.


(continua...)

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