sexta-feira, 2 de abril de 2010

Meu eu



Vou até a cozinha, bebo um copo gelado de água, com a esperança de afogar tudo o que não sei que se passa dentro de mim. Tentativa frustrada. O nó continua ali, intacto. Até parece que deseja impacientemente me enfrentar. Ele confia no poder e intensidade que possui. E eu me questiono sobre a minha força e a vontade de lutar.

Vou até o banheiro. Olho fixamente para o meu reflexo no espelho, e como em um convite para uma batalha decisiva, digo: “Eu te desafio. Desafio a parte de mim, que não conheço, desafio a parte de mim, que quer se entregar. Sou mais forte do que eu”. Tento fielmente acreditar, repetindo silenciosamente dentro de mim. Como as mentiras, que de tanto contadas se tornam verdades insolúveis.

Ainda que eu não me mostre abalada, eu tenho medo. Eu sinto tanto medo. Minha boca sorrir involuntariamente, ela já foi condicionada para responder os estímulos do mundo lá fora. Mas... O meu coração está cada vez mais fadigado. Esse eu ainda não aprendi a controlar.

Ainda que eu me esforce, não sou capaz de distinguir qual parte que sou verdadeiramente. O que é passageiro, o que um dia se vai, como a beleza, como a juventude, como a vida. E o que fica, o que predomina, como a essência, como a sabedoria, como a alma. Qual das partes de mim, que ficará? Então, você consegue distinguir?

A batalha estava lançada. O meu coração está aos pulos, nunca foi tão ameaçador estar diante do meu reflexo. Mas, decidi enfrentar o desconhecido, as fraquezas, os defeitos. Confesso que torci o nariz para muita coisa que vi. Confesso que foi difícil me aceitar. Sou completa com as minhas qualidades e defeitos, sim!

A menina de cabelos encaracolados. De sorriso, coração e pensamentos escondidos. De olhos expressivos e castanhos que mudavam constantemente, mais claros ou escuros, imitando a cor da sua alma (o que transparecia involuntariamente). A garota de passos rápidos, e de olhos fixos no chão. De amores não correspondidos, de sentimentos repreendidos, de perdas profundas.

Essa menina transformou-se. Ela descobriu que não é a única. Descobriu a vida, cheia de suas contradições, incertezas, fracassos, acertos, e principalmente cheia de felicidade. Essa menina descobriu e descobre a cada dia, que a felicidade não é algo estável, é preciso buscá-la. E no meio do caminho cheio de pedras, no caminho da busca contínua, que descobre que se é feliz.

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